Na prática de Saúde da Família, constatam-se múltiplas tensões na organização do trabalho. Apesar de as atividades com o coletivo, com as famílias, nas casas, nos locais de trabalho e convivência serem uma atribuição do conjunto da equipe, elas são assumidas principalmente pelos Agentes Comunitários de Saúde, seguidos pelos profissionais da enfermagem. A demanda por assistência via consultas clínicas é extremamente pesada e ocupa grande parte da agenda dos médicos. Em relação à prática de saúde bucal, observa-se uma supervalorização dos procedimentos em detrimento de ações voltadas para a integralidade da atenção. Os programas efetivamente produzem certo ordenamento das práticas de saúde, ao tempo em que criam um número grande de procedimentos obrigatórios. Além disso, as equipes, em especial a de saúde bucal, enfrentam muitas dificuldades para lidar com a demanda espontânea, e a atenção a elas quase sempre se conforma no esquema queixa conduta, queixa procedimento. As políticas ou iniciativas ainda não são efetivas para reconfigurar as práticas de saúde bucal, que, em muitos casos, continuam efetivamente operando na lógica hegemônica, individualista, curativista e biologizante. Na prática, então, não se construíram os meios para haver um diálogo entre a atenção básica e os serviços de saúde bucal. São dois mundos supostamente articulados, mas operando com lógicas distintas. E, nesse enfrentamento, a atenção básica se funde com a lógica da saúde bucal, com valorização das práticas simplificadas, da medicina de pobre para pobres, sempre culpabilizada por sua ineficiência e desqualificação. Diante desse cenário, este artigo visa analisar as práticas em saúde bucal na perspectiva da integralidade no Programa Saúde da Família de Feira de Santana-BA, tendo em vista a busca de um novo sentido para a produção de saberes e práticas no cotidiano dos serviços de saúde bucal, tomando como espaço institucional a Unidade de Saúde da Família.