O Trabalho Médico: Questões acerca da Autonomia Profissional

Este texto está baseado em pesquisa realizada no período 1986-1988. O tema inicial tratava das relações entre medicina e tecnologia, buscando recuperar a história da prática médica à medida que essa se desenvolveu como trabalho da sociedade. Pretendia alcançar a constituição do trabalho médico especializado e incorporador de tecnologias materiais, pois esse parecia ser um marco radical na história daquele trabalho. De fato, significou, para a medicina, sua superação de prática de pequeno produtor privado e isolado do consultório particular, abandonando a configuração da modalidade liberal de trabalho, para reestruturar-se em um conjunto de instituições heterogêneas e de práticas desiguais: a medicina institucionalizada e empresarial, chamada de “medicina tecnológica”. Trata-se de outra forma de intervenção, outra forma de exercício profissional e de satisfação das necessidades da população, alterando profundamente a posição do médico na sociedade e no trabalho: seu desempenho técnico, seu estatuto social e sua ação política são refeitos, bem como são reconstruídas as bases de sua relação com os pacientes. Analisando o significado dessas mudanças particularmente para o médico, ele estudou e redefiniu sua autonomia profissional, enquanto realidade objetiva e conceitual. De um lado, isso significou abordar o médico como sujeito coletivo e, simultaneamente, técnico, político e histórico. De outro, significou responder a algumas das mais intrigantes especificidades dessa prática, encontrando-a como trabalho de natureza muito peculiar. Para os médicos, a autonomia profissional, constituída historicamente ao longo do século 19 e cerne da medicina liberal, veio a ser uma conquista ímpar da medicina moderna. Sua substância é dada pela liberdade de se colocar no processo de trabalho, que foi, originalmente, ampla e global por revestir vários momentos de sua prática.

Área Temática:
Profissionais/Trabalhadores de Saúde
Autor:
SCHRAIBER, L. B.
Período:
1995 a 1999