O Trabalho em Serviços de Saúde
É preciso considerar três aspectos fundamentais quando se fala em processo de trabalho em saúde. Em primeiro lugar, que é um exemplo de processo de trabalho em geral e, portanto, compartilha características comuns a outros processos que se dão na indústria e outros setores da economia. Segundo, que é um serviço. Terceiro, que é um serviço que se funda em uma inter-relação pessoal muito intensa. Há muitas outras formas de serviços que dependem de um laço interpessoal, mas, no caso da saúde, ele é particularmente forte e decisivo para a própria eficácia do ato. Essas três dimensões são intercomplementárias e interatuantes. De um lado, tem-se um processo de trabalho com sua direcionalidade técnica, envolvendo instrumentos e força de trabalho, que é suscetível de uma análise macroeconômica geral na forma efetuada por Marx. Ali, encontram-se elementos para pensar igualmente o processo de trabalho em saúde, inclusive em suas questões complexas de composição econômica e técnica do capital, bem como da dinâmica das trocas que tem também uma correspondência no setor saúde. Mas há outra dimensão, a do serviço. Ora, a assistência à saúde não é um processo de trabalho igual ao da indústria; tem uma especificidade na medida em que é um serviço. Essa palavra tem por trás de si uma tradição quase pejorativa: serviço vem de servo. Por outro lado, a economia clássica praticamente não se preocupou com a análise teórica do que seja serviço, porque, dentro da dinâmica da acumulação capitalista no século XIX, esse não era um setor decisivo. Mas ele o é hoje e, sem dúvida alguma, é o que marca a própria modernidade do capitalismo.